Ferramentas podem diminuir riscos da cafeicultura 10/08/2021 - 10:59

A atividade agropecuária sofre a interferência direta de fenômenos climáticos como chuvas excessivas, estiagens, granizo, ventos, geadas e altas temperaturas. O desenvolvimento das plantas e o ataque de pragas e doenças estão diretamente ligados ao clima. Além disso, o produtor também enfrenta os riscos de mercado, tanto preços baixos no momento da venda como alta nos preços dos insumos. Na cafeicultura não é diferente, mas quem adota tecnologias para enfrentar esses riscos consegue diminuir os prejuízos. Os servidores do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater) levam aos cafeicultores de todos o estado algumas ferramentas que podem ajudá-los a enfrentar situações críticas. 

De acordo com Otávio da Luz, engenheiro agrônomo do IDR-Paraná de Carlópolis, uma das primeiras atitudes do produtor é observar o zoneamento agrícola no momento do plantio, já que o cultivo fora de época, ou em local inadequado, pode significar um risco redobrado. Outra providência, segundo o extensionista, é verificar se a área tem nematoides, além de fazer a análise de solo que permitirá ao produtor fazer a correção da acidez da área. "O cafeicultor também deve proteger o solo, controlar a erosão, fazer uma adubação equilibrada, usar variedades com resistência a pragas, doenças e intempéries", afirmou Otávio.

Ele acrescenta ainda que entre as práticas de manejo, as podas e desbrotas corretas são importantes para o desenvolvimento do cafezal. "Uma lavoura bem tratada, tem, pelo menos, duas vantagens quando sofre com condições climáticas adversas. A primeira delas é que estará forte e mais resistente a estiagem, geadas e outras intempéries. A segunda é que uma lavoura bem tratada é produtiva, capitaliza o agricultor que terá condições financeiras para suportar o período com pouca ou nenhuma produção após a ocorrência de condições adversas" destaca. 

Otávio lembrou também que existem várias práticas que o cafeicultor pode adotar para prevenir ou proteger as lavouras da ação direta de intempéries. "A cobertura de solo com o manejo de ervas daninhas ou adubo verde. A manutenção das matas ciliares e áreas de reservas. O enterrio de mudas de café recém-plantadas no dia anterior a geada. O chegamento de terra nas canelas das plantas de café, com idade de 3 meses a 2 anos, no final de maio. O uso de gel no momento do plantio e o molhamento das mudas logo depois podem render bons resultados", afirma.

Crédito
Outra ferramenta que Otávio destaca para o êxito das lavouras de café é a utilização de crédito rural para investimento e custeio pelo PRONAF (Programa Nacional da Agricultura Familiar), com juros subsidiados ou outros financiamentos. "O crédito, quando bem utilizado, pode auxiliar a agricultor a conduzir a lavoura utilizando a tecnologia disponível, reduzindo o custo de produção, além de o seguro da lavoura já estar atrelado ao financiamento", explica o extensionista.  O governo federal paga mais da metade do juro do recurso ofertado para financiar o pequeno agricultor, a chamada equalização dos juros. O governo estadual por meio do Banco do Agricultor vai pagar mais 2% ou 3% dos juros, oferecendo ao agricultor familiar juros zero nos financiamentos.

Otávio indica que até no momento de vender a produção, o cafeicultor pode usar ferramentas para assegurar seus ganhos. Ele destaca as linhas de venda futura e troca de produto por insumos como uma estratégia vantajosa para o produtor. "Assim, ele consegue uma média mais alta de preço de venda e garante também os insumos necessários amarrados com o preço do produto. Às vezes o pequeno agricultor tem dificuldade de acessar essas ferramentas individualmente, porém fica mais fácil de forma organizada", explica Otávio. 

Seguro
Neste ano o Paraná foi atingido por uma onda de frio e geadas severas atingiram seriamente as lavouras em todo o estado. Para o agricultor que contratou seguro a situação ficou sob controle. Mesmo neste caso é preciso escolher o melhor tipo de cobertura. Otávio informa que há dois tipos de seguro no mercado. O primeiro deles é o Seguro cafezal de riscos nomeados, ou seja, seguro do pé de café. A segunda modalidade é o Seguro para a colheita garantida que protege a produtividade da lavoura. Neste ano, o custo desses seguros variou de R$ 450 a R$ 1.000 por hectare, dependendo das coberturas solicitadas (estiagem, granizo, geada, etc.). A indenização pode chegar a um valor próximo de R$ 20.000 por hectare. "Muitas vezes o agricultor paga o seguro do seu veículo, mas não faz seguro de sua lavoura que é um patrimônio importante, de onde vem a sua receita. O seguro tem que ser feito e o seu custo incluído no custo de produção", destacou Otávio.  Ele acrescentou que a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) divulga no seu site (www.agricultura.pr.gov.br) uma relação de seguradoras credenciadas. Basta o produtor procurar a lista na aba "Seguro Rural" entre os programas da Seab.

Além do Proagro, que assegura apenas o valor financiado no PRONAF, tanto o governo federal como o estadual tem um programa de subvenção deste seguro. O governo federal pode pagar até 40% da taxa deste seguro, o governo estadual pode pagar até 20%, desde que enquadre nas normas.

O extensionista ainda lembra que os governos federal e estadual possuem muitos centros de pesquisas com equipes de pesquisadores, áreas de experimentação científica, equipamentos que desenvolvem tecnologia a ser ofertada ao agricultor. "O resultado de tudo isso é o avanço tecnológico que culminou em maiores produtividades, menor custo de produção, menor impacto ambiental, maior proteção dos recursos naturais e maior oferta de alimentos na mesa do brasileiro", afirma Otávio.

Cabe à Extensão Rural levar esse conhecimento ao produtor, especialmente ao agricultor familiar. Esta ação pública chega à sociedade em geral com alguns resultados como a diminuição das perdas de solo por erosão, o aumento da cobertura vegetal, o menor impacto ambiental, a diminuição dos riscos e o alimento mais seguro e barato. "Agora é o momento de o produtor aplicar as técnicas recomendadas para recuperar as lavouras que sofreram o impacto das geadas. Há uma série de técnicas que podem ser usadas para plena e rápida recuperação dos cafezais. O cafeicultor não está sozinho, a Extensão Rural é o ponto de apoio do agricultor familiar", conclui Otávio.

Reportagem: Roberto Monteiro