Assistência técnica agrega valor e abre mercado para alimentos produzidos em comunidade indígena 05/10/2023 - 15:37
Com assessoria do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater) a comunidade indígena do Pinhalzinho, município de Tomazina, conseguiu o certificado de produção orgânica para dezesseis famílias da Aldeia. Além da certificação a assistência técnica proporcionou opções de mercado seguro para a comercialização do excedente produzido.
Segundo o Adriano Lúcio Alboneti, extensionista do IDR-Paraná que presta assistência técnica à aldeia, nem tudo que as famílias produziam no local estava sendo consumido pela comunidade, foi então que perceberam a oportunidade de renda extra. “Como, pela cultura e tradição da comunidade, não utilizavam agroquímicos, buscamos a certificação da produção. O que agregou valor e abriu um mercado justo e seguro para destinar o excedente", explica, Adriano;
A certificação de conformidade orgânica foi obtida junto ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), depois da constituição de uma organização chamada OCS (Organismo de Controle Social), que reuniu as famílias interessadas. "Montamos toda a documentação e encaminhamos para o Mapa e conseguimos a certificação, que permite a venda desses alimentos diretamente para os consumidores ou através de canais oficiais como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar), o que resolve a necessidade das famílias" conclui Adriano.
Organização - Depois da certificação, o IDR-Paraná aproximou as famílias da Associação de Produtores da Agricultura Familiar de Siqueira Campos (APAFASC) que reúne outros produtores da região para que, juntos, possam atender ao PAA ou o PNAE. "Foi necessário porque a comercialização para estes canais institucionais só pode ser realizada por uma cooperativa ou associação de agricultores familiares. Com esta integração, conseguimos fechar o ciclo. As famílias produzem e agora tem para quem vender".
Os produtos mais colhidos hoje na aldeia são raízes, tubérculos, grãos e frutas, principalmente mandioca, batata, banana, feijão e goiaba. Mas a intenção é incrementar o cultivo de hortaliças folhosas com o objetivo de melhorar a dieta das famílias e ainda diversificar a oferta de produtos para o mercado.
Respeito - Embora a comunidade tenha o total de 520 hectares, cada família certificada utiliza, em média, apenas dois hectares para o cultivo. Alboneti conta que isso está bastante associado a tradição da comunidade. "É o respeito que eles têm pela mãe terra, eles não têm essa necessidade de expandir a área cultivada, de promover o desenvolvimento da monocultura. Aliás, mais da metade das terras da aldeia é de preservação. Então, a ideia deles não é aumentar o plantio, mas produzir um alimento com qualidade que possa servir a família e, então, vender o que sobra. E nós respeitamos essa tradição". completa o extensionista.
História - A comunidade indígena do Pinhalzinho foi demarcada em 1986 e o processo de desintrusão - retirada de famílias não indígenas do território - terminou apenas em 2009. Foi, aí, segundo o cacique Reginaldo Aparecido Alves, que as coisas começaram a acontecer. "Em 2011, em parceria com o Instituto Tecnológico Federal do Paraná, conseguimos fazer o levantamento da sociobiodiversidade. Constatamos que faltava muita coisa que consideramos sagradas, como o milho tradicional e as abelhas sem ferrão. No mesmo ano realizamos a nossa primeira feira de sementes crioulas. Seguimos fazendo um trabalho de recuperação, de não usar químicos nem agrotóxicos, até que em 2019 conseguimos ficar livres desses insumos. Foi nesta época que fizemos a parceria com o IDR-Paraná, o que nos ajudou a obter a certificação orgânica da produção e participar da associação para garantir a venda dos alimentos que não são consumidos na comunidade".
Futuro - Com recursos obtidos através da Prefeitura a comunidade investiu na construção de quatro estufas para produção de hortaliças que devem ampliar a produção e garantir ainda mais renda aos indígenas. “Queremos ter excedente para vender e garantir pelo menos 80 por cento da soberania alimentar, porque hoje muitas famílias ainda dependem do recebimento de cesta básica", conta o Cacique”
Além da construção das estufas a comunidade também aposta na viabilização, ainda neste ano, de um projeto de produção agroflorestal com a assessoria do IDR-Paraná, utilizando uma área de 8 hectares. Para o cacique, o grande problema enfrentado pelas comunidades indígenas é a falta, em primeiro lugar, de uma assessoria técnica e, depois, de um canal de comercialização. "E com o IDR-Paraná estamos tendo isso. Além de que recebemos do Instituto sementes de milho e feijão durante a pandemia. Foi ajuda que chegou numa hora muito oportuna, de grande dificuldade", concluiu.