Boletim Agrometeorológico do IDR-Paraná de julho aponta mês seco nas regiões Norte e Noroeste 07/08/2024 - 10:29
Como nos dois meses anteriores, julho de 2024 foi um mês seco nas regiões Norte e Noroeste paranaense. Isso ocorreu devido novamente à atuação de bloqueios atmosféricos configurando extensas massas de ar secas e quentes, que impediram o avanço das frentes frias (Figura 1). Nas demais regiões as chuvas foram abundantes. O maior acumulado mensal de precipitação ocorreu em Palmas, no Sul, onde choveu 247,8 mm e o menor índice foi 18 mm registrado em Jaguariaíva, no Norte do Estado.
As anomalias de precipitação foram superiores à média histórica em grande parte do Estado, exceto no Norte e Noroeste (Figura 2 e 3). O Litoral e Sul foram as localidades que registraram os maiores acumulados de precipitação e que mais se distanciaram da normal climatológica com superávits de 108,6 mm e 102,5 mm, respectivamente. As regiões Noroeste e Norte foram impactadas pela seca, tanto em termos quantitativos, como em distribuição, visto que nessas localidades houve apenas a atuação de um sistema de instabilidade significativo durante o mês, que provocou chuva concentrada no período de 08 a 13. O déficit de precipitação em relação à média histórica atingiu -64 mm em Jaguariaíva, no Norte do Paraná. Devido à chuva expressiva na maior parte do Paraná, a média estadual de precipitação foi de 135,1 mm, sendo que a média histórica é de 89,4 mm.
A água disponível no solo, que representa a disponibilidade hídrica para as culturas, foi extremamente crítica no Noroeste do Estado, atingindo o nível zero (Figura 4). Nas regiões mais ao sul e no litoral onde foram registradas precipitações, a água disponível variou de 40 a 80 mm.
As temperaturas máximas foram proporcionais às precipitações, ou seja, nos locais mais chuvosos onde não houve interferência dos bloqueios atmosféricos, as temperaturas foram mais amenas, como no Sul, Sudoeste, Litoral e Oeste paranaense (Figura 5). No Litoral, por exemplo, a temperatura máxima foi 2,4 oC abaixo da média histórica. Por outro lado, as regiões Norte e Noroeste apresentaram temperaturas entre 1 a 2 oC acima da média histórica devido a presença persistente de massas de ar quentes. A maior temperatura máxima média de julho foi de 26,8°C, registrada em Cambará, no Norte do Estado. As temperaturas mínimas foram variadas, mas superior à média histórica na maior parte do Estado. Em Apucarana, no Norte do Estado, a média das temperaturas mínimas foi 14,9 oC, sendo que a média histórica é 13,2 oC. Na média estadual, a temperatura máxima e mínima foram -0,5 oC e +0,5 oC em relação a média histórica, respectivamente.
Durante o mês de julho, somente no dia 01 houve formação de geadas de fraca intensidade em algumas localidades no extremo sul do Paraná. No restante do mês não houve formação de geadas. A menor temperatura registrada foi de -0,1 oC no dia 01/07 no município de Palmas, localizado no extremo sul paranaense (Figura 6).
AGRICULTURA
Com base nos boletins semanais elaborados pelos técnicos do Departamento de Economia Rural do Paraná – DERAL apresenta-se a seguir a influência das condições climáticas do mês de julho sob as principais culturas agrícolas do Paraná.
Na maior parte do Estado ocorreram precipitações abundantes em Julho. No entanto, destacam-se novamente as regiões Norte e o Noroeste, onde o acumulado de chuvas do mês não foi suficiente para atender às necessidades das culturas no campo.
MILHO 2ª SAFRA: A colheita do milho, favorecida pela estiagem, atingiu 85% no final de julho. Devido à seca, grande parte das lavouras apresentou quebra na produtividade, exceto as localizadas no Sudoeste e parte da região Oeste, as quais obtiveram produtividade dentro da estimativa inicial. As chuvas de julho tiveram pouco impacto na produtividade, pois a grande maioria das lavouras estava em fase de maturação. De maneira geral, nessa safra, a infestação de cigarrinha foi menor e melhor controlada, comparado à safra anterior, especialmente nas áreas com boa precipitação. Ocasionalmente, algumas lavouras acamaram devido ao vento e chuvas.
TRIGO: Em julho finalizou a semeadura de trigo, apesar da dificuldade por falta ou excesso de umidade no solo. Muitas lavouras, especialmente as localizadas nas regiões Norte e Nordeste, foram prejudicadas pela seca e temperaturas elevadas desde a implantação da cultura, apresentando porte reduzido, pouco perfilhamento, perfilhos inviáveis, espigas pequenas, área foliar diminuta e redução no potencial produtivo. A adubação nitrogenada e manejos fitossanitários também foram intensificados após as chuvas ocorridas em julho, visando o controle de ferrugem, oídio, brusone, manchas foliares, pulgões e lagartas.
DEMAIS CEREAIS DE INVERNO: As lavouras de aveias localizadas nas regiões Norte e Noroeste também tiveram a produtividade reduzida em virtude da seca. Iniciou-se a dessecação e rolagem nas áreas de cultivo de aveia para cobertura do solo. Os cereais comumentes cultivados mais ao sul do Estado, como a cevada, canola, centeio, triticale e até mesmo a aveia, apresentaram bom desenvolvimento.
CAFÉ: A colheita do café evoluiu de 47% em junho para 76% em julho, favorecida pelo tempo seco nas regiões produtoras (Norte e Noroeste). No entanto, devido à colheita manual, houve atraso em muitas lavouras. As produtividades foram abaixo do esperado, bem como a renda e a qualidade. O clima seco também provocou maior infestação de bicho mineiro e queda precoce de folhas.
FRUTICULTURA: Em julho finalizou a colheita de poncãs e nas lavouras que ocorreram chuvas abundantes houve redução dos frutos comercializados devido queda, podridões e fungos, além do ataque de mosca das frutas. A laranja também apresentou produtividades limitadas pela seca e doenças. As áreas com banana também foram impactadas pelos baixos índices pluviométricos. A uva foi colhida com produtividade dentro do esperado.
MANDIOCA: Na primeira semana do mês, tanto a colheita quanto o plantio da mandioca foram interrompidos pela estiagem. Porém, após as chuvas, a colheita foi retomada de forma intensa e mais da metade da safra foi colhida até julho. As raízes apresentaram maior teor de amido, o que é favorável para as indústrias e produtores. As precipitações também contribuíram para a retomada do plantio.
CANA-DE-AÇÚCAR: Apesar de uma breve interrupção no período chuvoso, à colheita ocorreu de forma satisfatória e mais de metade da área foi colhida, apresentando boas produtividades.
OLERICULTURA: Nas hortas que não foram protegidas, as geadas fracas ocorridas no início do mês causaram pequenos danos, com leve queima superficial nas folhas da alface, repolho, couve-flor e brócolis. Alguns produtores realizaram a proteção dos canteiros com coberturas de mantas de TNT. Foi realizada a colheita da alface, repolho, couve-flor, brócolis, couve-manteiga, acelga, espinafre e rabanetes e batata segunda safra. O transplante de mudas de tomate em estufas foi realizado. Houve transplantes e a semeadura direta de cebola, especialmente de ciclo mais tardio. As cebolas em desenvolvimento passaram por tratos culturais. Nas áreas com precipitação abundante mais ao sul do Estado, os canteiros irrigados demandaram menos água neste mês em comparação ao anterior, exigindo ajustes no manejo.
PASTAGENS: A falta de umidade no solo nas regiões Norte e Noroeste, onde as chuvas não foram expressivas nos últimos três meses, provocou déficit de massa verde das pastagens e a alimentação animal teve que ser suplementada com ração, silagem, capim napier e cana. Isso provocou perda de peso no gado de corte e aumento dos custos. O gado leiteiro também foi afetado, visto que sua alimentação, normalmente realizada com lavouras para silagens e forragens, também foram afetadas pela seca.
INCÊNDIO: O clima seco propiciou o aumento na incidência de focos de incêndios na zona rural do Norte e Nordeste do Estado.
SAFRA DE VERÃO: Os agricultores aproveitaram o tempo seco para intensificar as atividades de preparo para a próxima safra. Destaca-se a construção e reforma de terraços e aplicação de calcário.
Elaborado pela Agrometeorologia do IDR-Paraná1 e técnicos da SEAB/DERAL2:
Heverly Morais1
Carlos Hugo Winckler Godinho (Organizador)2
Pablo Ricardo Nitsche1
Angela Beatriz Ferreira da Costa1
Apoio: SIMEPAR