Para quem imagina que a criação de búfalos é viável apenas em locais quentes e úmidos, as pesquisas da Estação Experimental do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater), da Lapa mostram o contrário, com o emprego de um manejo simples da alimentação do rebanho, sanidade e reprodução dos animais.

Uma das principais características dos búfalos é que eles são mais rústicos do que os bovinos, o que lhes permite se adaptar melhor ao ambiente. São animais que têm boa resistência a mastites, não são afetados por carrapatos, e devido ao peso relativamente pequeno dos bezerros, em comparação ao tamanho das mães, os partos são geralmente mais fáceis. Além disso, os búfalos raramente apresentam problemas reprodutivos e têm alta fertilidade.

Práticas agroecológicas e de bem-estar animal

A criação de búfalos pode ser integrada a práticas agroecológicas. "A boa prática agroecológica prevê que o principal alimento dos herbívoros seja o pasto. Isso é uma vantagem no caso dos búfalos que, sendo grandes, conseguem consumir uma quantidade significativa de pasto e ainda assim manter produções adequadas ao manejo agroecológico. O rebanho bubalino da Lapa tem uma média de produção de de 8,8 litros de leite por vaca, ao dia, com 5,4% de gordura e 4,1% de proteína. A contagem de células somáticas está entre 19 e 36 mil células/ml (dados do tanque), e a média individual de todas as vacas em ordenha varia entre 40 e 60 mil", explicou o pesquisador e coordenador do Polo de Pesquisa e Inovação de Curitiba, João Ari Gualberto Hill.

De acordo com o pesquisador, a criação de búfalos na Estação segue os princípios das Cinco Liberdades do bem-estar animal: liberdade de sede, fome e má nutrição; liberdade de dor e doença; liberdade de desconforto; liberdade para expressar o comportamento natural da espécie e liberdade de medo e estresse. Esses cuidados incluem a oferta de água fresca e de qualidade, suplementação adequada para a mãe e o bezerro, além do controle e tratamento de doenças para garantir o bem-estar dos animais. "Também é fundamental evitar bater nos animais, principalmente nos búfalos, que são grandes e resistentes. Ter paciência e conduzi-los de forma racional é essencial. Na Estação da Lapa, as búfalas são chamadas pelo número para a ordenha e elas vão sozinhas quando chamadas", destacou João Ari.

Mercado da bubalinocultura no Paraná

"A criação de búfalos no Paraná ainda é pequena. Mais de 50% dos búfalos estão na Região Metropolitana de Curitiba, especialmente no Vale do Ribeira. A demanda por derivados lácteos de búfala aumentou muito em Curitiba, mas não há um laticínio para processar esse leite no estado", explicou João Ari. O leite de búfala produzido no Paraná é enviado para o Vale do Ribeira, em São Paulo, onde é industrializado. Uma pequena parte retorna ao comércio de Curitiba. Um dos fatores importantes para o segmento é a organização dos produtores. Em agosto, a Estação da Lapa recebeu a visita de membros da Associação dos Criadores de Búfalos do Vale do Ribeira e de Campo Largo. "A organização dos produtores, como esses que nos visitaram, é o primeiro passo para melhorar a cadeia produtiva. Se isso acontecer, o leite de búfala pode se tornar uma alternativa de renda para produtores, não só do Vale do Ribeira", concluiu João Ari.

Visitação de estudantes universitários

A Estação também tem recebido a visita de outros interessados como um grupo de estudantes do curso de Zootecnia e Medicina Veterinária da UFPR. A visita fez parte da disciplina de Extensão Rural. O objetivo foi conhecer a criação de búfalos e as boas práticas de manejo. Além dos alunos da UFPR, já passaram pela Estação alunos do Colégio Agrícola Newton Freire Maia e do Colégio Agrícola de Palmeira. Ao longo do ano, cerca de 2.000 pessoas visitam o local para conhecer mais sobre a bubalinocultura e a fruticultura, outra área forte da Estação. "Achei interessante a forma como eles lidam com os animais, que parecem ter um bom nível de bem-estar. É muito legal existir espaços como esses, abertos para a visitação. Tanto a parte de criação de búfalos quanto a de fruticultura são áreas importantes para conhecer", comentou a estudante de Medicina Veterinária, Natália da Paixão.