Desafios das mudanças climáticas 14/03/2025 - 10:14
Desde 2011, a data de 16 de março é definida como o Dia Nacional da Conscientização sobre Mudanças Climáticas. O objetivo é conscientizar a população a respeito da importância de realizar ações que reduzam o impacto das mudanças climáticas e refletir sobre o aquecimento global e suas consequências. É a oportunidade também de reforçar o compromisso da sociedade com o cuidado do planeta e a responsabilidade coletiva diante dos desafios ambientais.
Avner Paes Gomes, da área de Recursos Naturais e Sustentabilidade do IDR-Paraná, acredita que as mudanças climáticas já afetam profundamente nossas vidas. Para ele, os eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e intensos (secas prolongadas, tempestades severas, enchentes e ondas de calor), são a prova de que o clima já não é mais o mesmo. “Esses fenômenos impactam não apenas o meio ambiente, mas também comprometem a economia, a saúde pública e a segurança alimentar, afetando especialmente as comunidades mais vulneráveis”, ressalta Gomes. Ele lembra que recentemente um vendaval causou sérios prejuízos para os produtores de banana do litoral paranaense. Além disso, as altas temperaturas registradas no estado podem ter contribuído para a multiplicação da mosca branca que transmite uma doença virótica que compromete a produção de tomate.
Este panorama de novas condições climáticas exige que governos, instituições, empresas e cidadãos atuem juntos na promoção de práticas sustentáveis, redução das emissões de gases de efeito estufa e na adaptação às novas condições climáticas. “Pequenas ações no cotidiano podem gerar grandes resultados, como economizar água e energia, reduzir desperdícios, praticar o consumo consciente, apoiar políticas públicas voltadas à sustentabilidade e valorizar iniciativas locais de preservação ambiental”, ressalta Gomes
Ações concretas: O IDR-Paraná desempenha um papel importante, por meio de suas ações de pesquisa, extensão rural e transferência de tecnologia, colaborando diretamente para mitigar prejuízos e adaptar a vida do agricultor paranaense às mudanças climáticas. Gomes aponta como exemplos desse trabalho, o incentivo à recuperação de áreas degradadas e a adoção de sistemas sustentáveis como o plantio direto e outras práticas de conservação de solos. “Essas práticas aumentam a resiliência dos sistemas produtivos. Além disso, o IDR-Paraná promove ações voltadas à redução de aplicação de agrotóxicos e saneamento rural. São ações concretas que reforçam o compromisso do Instituto em promover um futuro mais resiliente, equilibrado e sustentável para o estado e para as futuras gerações”, observa Gomes. Ele destaca que o cultivo de culturas perenes, a proteção do solo e a integração de espécies diferentes são benéficos não somente do ponto de vista ecológico, como também econômico já que refletem diretamente em maior produtividade da agropecuária.
Gomes afirma que é preciso investir na educação ambiental das pessoas para que elas mudem de atitude e evitem prejuízos. “É necessário alertar sobre os efeitos das mudanças climáticas e propor soluções”, observa. Gomes acrescenta que os o IDR-Paraná, juntamente com outras instituições públicas e privadas, vêm desenvolvendo um mecanismo de certificação das propriedades que usam práticas sustentáveis, o que valoriza a produção no mercado.
Moacir Roberto Darolt, pesquisador do IDR-Paraná, alerta que as mudanças climáticas preocupam sobretudo porque afeta diferentes segmentos de forma distinta. “No Paraná, que tem uma agricultura forte, os impactos dessas mudanças são realmente preocupantes. Estudos indicam que a irregularidade de chuvas e o aumento das temperaturas afetam as culturas principais como soja, milho, trigo, feijão, além de hortaliças e frutas. Essas mudanças favorecem a proliferação de pragas e doenças, elevam os custos de produção e também reduzem a produtividade”, alerta. Para Darolt, os agricultores familiares certamente vão enfrentar maiores dificuldades porque eles dependem muito dos recursos naturais e do próprio clima para produzir. “Eles também, muitas vezes, têm acesso limitado a tecnologias mais modernas. Essas alterações climáticas vão afetar a produção e também a segurança alimentar das pessoas que estão na cidade e que dependem do campo”, aponta Darolt.
Práticas sustentáveis: O pesquisador lembra que já é possível perceber uma mobilização para implementar práticas mais sustentáveis no campo. “Já se sabe que a agroecologia estimula práticas agrícolas que aumentam a resiliência dos sistemas produtivos. Na Estação de Pesquisa em Agroecologia do IDR-Paraná, em Pinhais, há mais de quinze anos temos experimentado o uso dessas práticas como o SPDH (Sistema de Plantio Direto de Hortaliças) onde você deixa uma palhada que ajuda a manter a umidade do solo, diminui a temperatura em dias muito quentes, além de aportar matéria orgânica”, informou Darolt. Ele acrescentou que a compostagem, a adubação verde, o reaproveitamento dos resíduos orgânicos da propriedade e o uso de bioinsumos podem ajudar a tornar os sistemas produtivos mais sustentáveis.
Uma outra prática já conhecida pelos produtores e difundida pelos extensionistas do IDR-Paraná é a implantação dos sistemas agroflorestal e silvipastoril. “Eles incluem árvores, culturas frutíferas e animais num mesmo local. Isso melhora bastante o equilíbrio ecológico da propriedade”, destaca o pesquisador. O uso de variedades adaptadas ao clima também pode contribuir para que o produtor tenha lavouras mais resistentes a pragas, doenças e também a períodos de estiagem, o que reduz as perdas de produção. Darolt também destaca que o uso de quebra ventos, com o plantio de bambu ou outras espécies, ajuda a proteger não só as culturas, mas também as construções.
O IDR-Paraná capacita produtores e presta assistência técnica e vem incentivando a adoção de práticas agroecológicas em todo o estado. O monitoramento climático feito pelo Instituto, com o registro do regime de chuvas, pode fornecer informações importantes que ajudam os agricultores a se prepararem melhor para evento climáticos rigorosos. Além disso, os extensionistas prestam orientação em políticas públicas que os agricultores podem utilizar na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.