Encontro de produtores de mandioca discute o mercado e a adequação de cultivares de mandioca 11/07/2023 - 17:31
O uso de novas cultivares e o mercado foram os principais assuntos do Encontro de Produtores de Mandioca, realizado em Santa Isabel do Ivaí-PR, no último dia 6. Cerca de 140 agricultores participaram das discussões que, pela primeira vez, reuniram lideranças empresariais das doze indústrias de região.
Fábio Isaias Felipe, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP), apresentou a conjuntura atual do cultivo de mandioca no país e indicadores importantes que podem influir no mercado nos curto e médio prazos. O presidente do Sindicato Rural de Paranavaí, Ivo Pierin Júnior, apresentou uma importante reflexão sobre a adequação e uso de cultivares para melhorar a eficiência na cadeia produtiva, o que pode trazer ganhos de produtividade e rentabilidade em toda a cadeia.
Pesquisa - Um exemplo da importância do material produzido pela pesquisa é a B-36, do IDR-Paraná, que é muito plantada pela sua precocidade. A cultivar também dá uma boa resposta em produtividade nas lavouras e se adapta a diferentes condições de solo. No entanto, nos últimos meses foram verificados pequenos descontos, entre R$ 0,05 e 0,10, no recebimento por parte de algumas indústrias, em virtude de dificuldades na industrialização da cultivar. Pierin Júnior relatou que ocorreram dificuldades de extração total do amido produzido pela cultivar B-36 no processo industrial. Mas, ele informou que isso não foi comum em anos e meses anteriores. Contudo isso também pode acontecer com outras cultivares. “Nesse sentido, é preciso investir em pesquisas para que essas eventuais causas sejam conhecidas, dominadas e corrigidas pelos produtores e industriais no processo produtivo. Todos são sócios desse processo na cadeia produtiva. Ao melhorarmos o conhecimento e a gestão desses eventuais problemas, nas lavouras e na indústria, todos podem ganhar mais”, observou. O empresário alerta ainda que se todos optarem por uma única cultivar aumenta o risco de haver algum problema se houver uma praga ou doença que ataque as lavouras. “Devemos resgatar as qualidades de outros materiais disponíveis e já testados no mercado. Também é preciso aumentar o investimento em pesquisa privada e pública na mandiocultura paranaense, para que as soluções estejam prontas quando surgirem os problemas, havendo enorme possibilidade de incremento de qualidade e produtividade nos processos produtivos e da renda em toda a cadeia produtiva se isso for bem gerido”, observou.
Diálogo - Pierin Júnior defende que o setor industrial e produtores melhorem o diálogo para planejarem melhor a logística da oferta. Ele ressaltou que todos devem colaborar para evitar a sazonalidade que prejudica o abastecimento das indústrias. Segundo o empresário, algumas medidas para estabilizar a oferta podem, inclusive, colaborar com a estabilidade e a melhoria dos preços no mercado para os mandiocultores e para os industriais.
Os produtores do Noroeste do Estado do Paraná respondem atualmente por 63,1% da área de mandioca do estado ou 85,6 mil hectares. A produção da região deve totalizar 2,13 milhões de toneladas, 64,7% da produção estimada para o Estado em 2023. Em todo o Paraná a cultura deve alcançar 135.610 hectares e a produção ao redor de 3.29 milhões de toneladas, de acordo com o DERAL (Departamento de Economia Rural, da Secretaria Estadual da Saúde e do Abastecimento). Em termos nacionais, a área de mandioca se estabilizou em torno de 1,24 milhões de hectares para a safra 2023, depois de um movi-mento de queda na área plantada observado em 2016.
De acordo com Fábio Isaías Felipe do CEPEA, o mercado vem sendo influenciado pelos menores custos de produção das áreas que estão sendo plantadas. Isso se deve aos cus-tos dos fertilizantes, defensivos, diesel e arrendamentos, decorrente de uma ligeira queda do valor da moeda norte americana. Além disso, é possível perceber uma diminuição na moagem no segundo semestre, com ligeira queda na oferta e no teor de amido produzido nas lavouras. Esse fato pode aumentar o interesse dos produtores pela cultura da mandio-ca, diante da perspectiva de um aumento na rentabilidade das lavouras.
Pouca demanda - A colheita e os plantios de mandioca estão avançando no estado e os produtores esperam clima favorável, com a recuperação da produtividade agrícola e indus-trial no Sul do país. Entretanto, a demanda no mercado interno não tem aumentado, em consequência de fatores macroeconômicos que influenciam o consumo: juros, câmbio, e PIB. Este cenário impõe dificuldades para previsões que sejam acertadas.
Segundo Ricardo Domingues, do IDR-Paraná, ao escolher as cultivares é fundamental que o produtor se atente ao processo de plantio e colheita mecanizados. “Isso não é mais uma simples tendência, mas um caminho sem volta, sendo uma necessidade devido à escas-sez de mão-de-obra e sua qualificação”, destacou. Já o extensionista Rafael Souza dos Santos, do IDR-Paraná de Santa Isabel do Ivaí, chamou a atenção para que o setor indus-trial trate a questão da determinação da renda de forma bastante transparente, com bases científicas, para que os produtores aumentem sua confiança na indústria. “Isso é funda-mental para melhorar a relação das indústrias com seus fornecedores agrícolas”, concluiu.