Expotécnica.com: Experiências com a produção de Sorgo Granífero e Forrageiro no Arenito Caiuá 19/10/2020 - 17:17

A cultivo do sorgo tem se disseminado nos últimos anos devido ao seu alto potencial de produção de grãos e de matéria seca e, entre outras qualidades, pela sua extraordinária capacidade de suportar estresses ambientais. Por isso, o cereal se demonstra uma excelente opção para produção, também, de forragem.

Do ponto de vista de mercado, o cultivo de sorgo, em sucessão a culturas de verão, tem contribuído para a oferta sustentável de alimentos de qualidade para animais, com baixo custo, tanto para os pecuaristas como para a agroindústria de rações. Além disso, em anos em que o déficit hídrico é acentuado e quando os solos estão em condições de baixa fertilidade, situações consideradas de riscos para algumas culturas, o sorgo pode substituir culturas mais sensíveis, em especial a do milho.

Estima-se que a produção desse cereal alcance 2,7 milhões de toneladas no Brasil em 2020, influenciada, principalmente, pelo aumento da produtividade. A Região Central tem se destacado como maior produtora e, em Goiás - maior produtor brasileiro do cereal –, a estimativa é de que alcance 1,3 milhão de toneladas, o que equivale a 47,7% do total nacional neste ano.

Para o Brasil, é estratégico dispor de áreas produzindo sorgo para a garantia do abastecimento de grãos, pois elas dependem quase que exclusivamente da precipitação pluviométrica. Em anos com ocorrência de condições desfavoráveis, normalmente há déficit na produção de grãos e o sorgo, sendo uma cultura de vocação para cultivo em condições adversas de clima e solo, poderia reduzir o impacto desse fator no abastecimento de grãos.

O produto tem conquistado espaço devido ao aumento por sua procura e a liquidez que tem oferecido para o agricultor, apresentando grande vantagem comparativa para a indústria, que, cada vez mais, procura alternativas para compor suas rações com qualidade e menor custo.

A produção do sorgo no Paraná já alcançou cerca de 40 mil toneladas, produzidas em 15 mil hectares no ano de 2004, quando o Estado ocupava a 3ª posição entre os principais estados da federação. Nas regiões norte e noroeste, predominam os solos arenosos da formação denominada Arenito Caiuá, presentes em 115 municípios, e que abrangem 3,1 milhões de hectares – um pouco mais de 15% do território paranaense.

Nestas áreas, a soja tem avançado, sendo seguida pelo milho que, contudo, tem enfrentado limitações, devido aos riscos impostos na sua produtividade e rentabilidade nas áreas mais arenosas e que são extremamente quentes no inverno e mais sujeitas aos veranicos, típicos das regiões norte e noroeste.

O sorgo tem seguido este avanço, seja no cultivo de verão, dedicado à produção forrageira aos pecuaristas, seja no inverno ou segunda safra, voltado à produção de grãos e fonte de forragem.

O milho, principal ingrediente para alimentação animal no país, tem se valorizado, em especial pela ligação com o complexo da cadeia de carnes e os mercados externos. O sorgo já é reconhecido como o principal grão alternativo ao milho, para manter o mercado de rações abastecido, com grãos de qualidade confiável e, a um custo ajustado ao negócio, na chamada cesta básica de ingredientes forrageiros, junto com o próprio milho, o trigo, o triticale, o farelo de arroz e a fécula de mandioca.

O cereal também pode substituir parcialmente o milho nas rações para aves e suínos e totalmente para ruminantes, com uma vantagem comparativa de menor custo de produção e valor de comercialização de 80% do preço do milho.

Nesse contexto, com o sistema de plantio direto na cadeia da integração lavoura-pecuária-floresta se abre um amplo campo para integração do sorgo ao sistema, como extraordinário produtor de palha de qualidade, além de servir como elo à agroindústria de carnes na região, na busca de matérias primas de menor custo para alimentação de plantéis de aves, suínos e bovinos. Ela também tem mostrado bom desempenho como alternativa para uso neste sistema devido a possuir uma boa capacidade de produção de massa vegetal em condições de estresse hídrico, proporcionando maior quantidade de matéria orgânica e melhor proteção do solo contra a erosão, aumentando a capacidade de retenção de água no solo, criando condições muito mais favoráveis para a instalação dos sistemas de plantio direto.

“O sorgo é a grande novidade e também uma enorme oportunidade da pecuária na região Arenito Caiuá, no Paraná. O cereal acrescenta amido à alimentação do gado, cria oportunidades de trazer palhada e um pastejo de inverno. Esta mudança é necessária e precisa ser testada na região do arenito devido à tamanha possibilidade que ele pode levar à pecuária”, comenta o engenheiro agrônomo do IDR-Paraná, Antônio José Coelho de Castro.

Com o avanço da adoção de tecnologias na agricultura e dos seus sistemas de produção, que continuam ampliando as possibilidades para os diferentes tipos agronômicos de sorgo (granífero, forrageiro, sacarino e o tipo vassoura, a indústria de insumos e o poder público, por meio da Embrapa e do IDR-Paraná, tem se esforçado na produção de materiais e validação de novos materiais genéticos, dos mais diversificados, considerados mais modernos, produtivos e responsivos.

Entretanto, um dos entraves a serem superados ainda é o conceito existente entre os produtores de que o sorgo é uma planta que não exige investimentos. Ao contrário disso, com a disponibilidade desses novos materiais, variedades e híbridos, se abrem também novas possibilidades para o avanço do seu cultivo em novos patamares, os quais podem permitir maior rentabilidade relativa ao milho, especialmente nas áreas consideradas marginais ao cultivo deste.

Um bom planejamento de produção se inicia, portanto, com a negociação prévia com o mercado que absorverá a produção, a escolha de materiais adequados ao ambiente de produção e com a qualidade dos grãos desejadas por ele, o que determina as variedades ou híbridos mais adequados e o período mais favorável ao plantio, respeitando sempre o zoneamento de risco agroclimático estabelecido para a instalação da cultura. Na região do Arenito, o sorgo granífero não suporta bem os plantios de safrinha feitos após a primeira quinzena de março.

Passa pela organização do sistema de conservação de solos, sua adequação com as medidas preventivas de contenção da erosão e as correções de fertilidade. Demanda o investimento na aplicação de adubação equilibrada ao solo e à cultura, pensando inclusive no aporte de nutrientes ao sistema de produção – adubação de sistema, procedimento de enorme valia no cultivo de grãos subsequente.

O bom controle de plantas daninhas feito previamente é fundamental, pois as limitações quanto ao rol de herbicidas disponíveis registrados oficialmente para o uso da cultura ainda é pequeno, considerada uma preocupação a ser resolvida.

O plantio feito com sistemas de distribuição de sementes com precisão e com sementes tratadas é algo importante, tendo em vista que a profundidade adequada na deposição das sementes no sulco de plantio e a boa distribuição espacial das plantas quando já estabelecidas interferem muito na expressão da produtividade potencial dos materiais genéticos.

A adubação de cobertura a base de N e K devem ser consideradas, sobretudo quando se trata do uso de materiais mais responsivos, plantados em épocas mais favoráveis e quando as condições climáticas assim permitirem.

O controle inicial de pragas exige monitoramento e um bom programa de controle. Por outro lado, existem materiais com boa tolerância a doenças e diversos deles que exigem boa estratégia de controle das principais doenças.

Os equipamentos de colheita precisam ser bem ajustados, a uniformidade de maturação dos materiais é uma característica desejável, podendo considerar que o período mais apropriado para a colheita é relativamente estreito, como os grãos são desprotegidos estão sujeitos a umidade e aos pássaros, especialmente em áreas pequenas e plantadas isoladamente.

Por outro lado, a sua flexibilidade para uso como forrageira entregue no cocho ou sendo pastejada e mesmo ensilada é uma característica muito interessante, por conta do elevado potencial de produção de massa relativo, principalmente sob condições climáticas mais adversas – períodos secos e com veranicos típicos do inverno no arenito paranaense.

Mesmo assim, o sorgo tem enorme potencial para ocupar áreas na região do arenito, nos solos muito arenosos e até mistos, na esteira do milho safrinha, após o cultivo de mandioca, na reforma das pastagens, à medida que essas condições não são satisfeitas para garantir baixos riscos com a rentabilidade do milho.

Também se constitui uma ferramenta importante no manejo de nematoides, em particular os do gênero Pratylenchus, característica de alguns materiais genéticos de sorgo que serão muito úteis para o controle dessa praga de solo no sistema de produção na Integração Lavoura, Pecuária e Florestas. Tem produzido bons resultados em sistema de produção quando consorciado com as gramíneas, proporcionando, após sua colheita ou pastejo direto, a produção de forragens e pastagens consorciada numa época onde a disponibilidade de alimento aos animais é baixa nessa Região.

E, apesar de ser sensível a diminuição do fotoperíodo, à redução da soma térmica e às baixas temperaturas e até as geadas que podem ocorrer durante o inverno nesta Região, permite a flexibilização no plantio em até 15 dias em relação ao milho.

Além de tudo isso, ainda é uma cultura que exige muito menos capital em relação ao milho, garantindo normalmente melhor ou algum retorno do capital investido onde o milho não o garante com frequência.

Na área de atuação da Cooperativa Cocamar Agroindustrial – que se estende pelo norte e noroeste do Paraná, sudoeste de São Paulo e leste do Mato Grosso do Sul, na safra 2019/2020 foram recebidos grãos produzidos em 1 mil hectares, concentrados no extremo norte do Estado, na região do Vale do Rio Paranapanema.

Segundo o engenheiro agrônomo Cesar Augusto Feltrin Gesualdo, coordenador técnico da Cocamar Cooperativa Agroindústrial, “a perspectiva para a safra 2020/2021 é de que sejam plantados ao redor de 10 mil hectares para produção de grãos na próxima safrinha. O desafio principal é adequar o planejamento da cooperativa, desde a organização do fornecimento dos insumos e a recepção nas suas unidades, a secagem e o armazenamento da produção; à linha de produção da indústria de rações da cooperativa”.

É preciso ter produto armazenado para garantir a operação por pelo menos um ano na indústria, de maneira que se possa manter a qualidade e o padrão na linha de produção da ração. Com o desenvolvimento o mercado de sorgo esses problemas com a logística de abastecimento tendem a ser equacionados.

Expotécnica.com

Com o intuito de informar e discutir sobre o Cultivo do Sorgo granífero e forrageiro na Região do Arenito Caiuá, o próximo episódio da Expotécnica.com abordará o assunto no canal no Youtube. Será na quinta-feira, dia 22 de outubro, às 09:00h.

Clique aqui para acessar: https://youtu.be/3nSzW3dPAFw

O evento contará com a apresentação do Pesquisador Eng.° Agr.° Dr. Flávio Dessaune Tardin, da Embrapa Milho e Sorgo – Sinop/MT, que abordará sobre o panorama e perspectivas da Cultura do Sogro no Brasil, Em seguida, serão apresentados resultados de produção de Sorgo granífero e forrageiro em áreas de produtores rurais, apresentados pelo Eng.° Agr.° Alex Eduardo Zaniboni da Cocamar, pelo Gestor Willian Sawa da fornecedora de sementes Latina Seeds, o Eng.° Agr.° Marcos Brito da Sementes Biomatrix, sendo acompanhados no debate pela pesquisadora Zootª Dra. Kátia Fernanda Gobbi do IDR-Paraná.

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