Formiga cortadeira exige controle para evitar prejuízos 09/07/2021 - 10:54
Na região Noroeste do estado a formiga cortadeira, a saúva, já é considerada uma praga praticamente fora de controle. Ela aparece na maioria das propriedades, causando prejuízos para diversas culturas. Se por um lado é impossível acabar com as formigas, os especialistas dizem que é possível fazer um manejo que torna possível o convívio com a praga. Informação e técnicas apropriadas são fundamentais para lidar com o problema. Os extensionistas do IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater) prestam orientações a todos os produtores interessados em fazer o manejo adequado da saúva nas propriedades e manter a praga sob controle.
No município de Umuarama o IDR-Paraná mantém uma Unidade de Referência onde os agricultores da região podem conhecer desde as espécies de formiga, características dos formigueiros, até as práticas para eliminá-los. O extensionista José Cosme de Lima explica que para estabelecer um convívio com as formigas é preciso, primeiramente, ter informações sobre a praga. "É necessário conhecer a espécie, saúva ou quenquén, seus hábitos e formas de combate", ressalta.
O extensionista destaca que o prejuízo causado pelas formigas não é pequeno. "Nas áreas de pastagem esses insetos competem com os animais por alimento. Um formigueiro, de 1 a 6 anos, pode consumir de 3 a 7 quilos de forragem por dia. Um ninho adulto da Atta capiguara, a saúva parda, pode consumir até 50% das pastagens de uma área", informou Lima. O dano se estende também a áreas de lavoura. Segundo Lima, nos cultivos de cana a perda causada pelas formigas pode chegar a 3,2 toneladas de folha por hectare. Além disso, nas áreas com eucalipto três ataques sucessivos das formigas podem levar uma planta à morte. "A saúva desfolha o eucalipto e a planta não se recupera, não tem como fazer a fotossíntese", esclarece.
Conhecendo a saúva
Por essas e outras razões, Lima afirma que todo produtor deve iniciar o combate da formiga cortadeira tão logo observar o surgimento dos insetos na propriedade. Conhecer a espécie de formiga e seus hábitos é importante para escolher a melhor época e método de controle da praga. Lima explica que de maio até julho, época de temperaturas mais amenas, as formigas ficam mais ativas na superfície do solo em busca de alimento. Nesse período, é indicado o uso de iscas. Já no verão, sob altas temperaturas, elas se recolhem para o interior do formigueiro, o que vai exigir que o produtor faça o controle nos horários de temperaturas amenas.
Mas além de conhecer a espécie, o extensionista orienta que o produtor descubra também o tamanho dos formigueiros das saúvas. " Um formigueiro é considerado pequeno quando tem até dois, metros quadrados. O médio pode chegar a vinte metros quadrados. Acima desse tamanho é considerado um formigueiro grande. Isso é importante para definir o melhor método de controle", ressaltou Lima. Segundo o extensionista, o tamanho do formigueiro é definido multiplicando-se o maior comprimento pela maior largura da área de terra solta do formigueiro (murundum). Ele lembra que há uma única exceção nesta regra. "Quando se tratar da saúva parda (Atta capiguara), deve-se incluir também no cálculo, o murundum, as rosetas e os discos existentes ao redor do monte de terra", esclareceu.
Controle químico
O controle com pó químico é indicado para ninhos com até 2 m2, acima disso, recomenda-se a utilização de iscas. "As iscas devem ter a granulometria adequada, que vai possibilitar que as formigas manipulem o material. Além disso, as iscas têm que ser resistentes à umidade e com aroma atrativo", ensina o extensionista. O produtor deve seguir a dosagem prescrita no receituário e na embalagem do produto. Os técnicos recomendam que no caso de sauveiros adultos, com murunduns com altura igual ou superior a 0,8 m, a dose seja aumentada em pelo menos 20%.
As iscas não devem ser aplicadas em época de chuvas, pois a umidade destrói os grânulos e a isca perde a capacidade de atração sobre as saúvas. Temperaturas elevadas, ou muito baixas, também alteram a eficiência do método de controle. O que se verifica é que, no verão, as iscas são mais eficientes quando utilizadas no fim de tarde. O material deve ser distribuído nas horas em que as cortadeiras estão trabalhando, na maioria das vezes quando a temperatura é mais amena. E o produtor jamais pode tocar as iscas.
Tatus, pássaros, aranhas, lagartos e tamanduás são algumas espécies que predam formigas. Lima recomenda que ao escolher métodos e produtos para controlar as formigas, use produtos que não comprometam a fauna local. "O agricultor também pode usar o pó químico, mas deve ficar atento para a calibração do equipamento de aplicação, pois além de seguir a recomendação do produto, ele deve colocar o cano do aplicador diretamente no olheiro de alimentação do formigueiro. Depois é só bombar em número de vezes que corresponda à dose recomendada pelo fabricante do produto", informou o extensionista.
Práticas de manejo
Os produtos líquidos para controlar os formigueiros devem ser aplicados com jatos dirigidos nos olheiros de alimentação. "Deve-se aplicar ao menos 50 mL de calda por olheiro. Mas o uso de caldas deve respeitar as culturas recomendadas, assim como uso de produtos registrados para o estado do Paraná". A dosagem vai depender do tamanho do sauveiro. Alguns produtos químicos podem ser aplicados na forma de gotículas, formando uma névoa que é introduzida no formigueiro, é a termonebulização.
Também existem métodos culturais que podem controlar a saúva, como as práticas de revolvimento do solo, principalmente a aração e a gradagem. No entanto, essa prática é indicada apenas para sauveiros novos. Lima explicou ainda que a saúva limão, por exemplo, ataca plantas de folha larga. "Colocar plantas como a braquiária em uma área com essa espécie de formiga pode ser um método natural de controle dessa praga", observou. Ele lembra também que o combate às formigas deve ser feito sempre em conjunto com vizinhos, porque a praga não respeita cercas. Vale lembrar que o manejo de formigas cortadeiras é obrigatório no Paraná, conforme lei estadual de 1995.
Reportagem: Roberto Monteiro