IDR-Paraná apresenta a produtores e técnicos sua 41ª cultivar de feijão, a IPR Cardeal 13/12/2023 - 08:07
Nova cultivar tem como alvo o segmento de exportação, particularmente a indústria de enlatados e conservas. Evento de lançamento reuniu produtores, técnicos, pesquisadores, multiplicadores de sementes.
O Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) apresentou nesta terça-feira (12), no Polo de Pesquisa e Inovação da entidade em Pato Branco, sua nova cultivar de feijão, a IPR Cardeal, que tem como alvo o segmento de exportação, particularmente a indústria de enlatados e conservas. É a 41ª cultivar de feijão desenvolvida pelo IDR-Paraná. O evento de lançamento reuniu dezenas de produtores, técnicos, pesquisadores, multiplicadores de sementes e especialistas de toda a cadeia produtiva do grão.
Com destaque para os grãos avermelhados de tamanho superior e cozimento rápido, o produto deve ganhar mercado internacional também pela coloração intensa, que se mantém após ficar de molho ou cozimento. Em alguns países o feijão pré-cozido é vendido em embalagens de vidro e a coloração é um atrativo.
"A gente trata com muito carinho o produto que é um dos integrantes do prato básico da mesa do brasileiro, muito calcado nos feijões cariocas e nos pretos. Mas percebemos que há uma grande oportunidade de entrar com feijões maiores, junto com outros pulses, como grão de bico e lentilha. É um espaço para ampliação, inclusive, do comércio internacional, então houve um esforço de pesquisa nessa direção", disse o secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
Ele destacou o esforço no desenvolvimento da cultivar e no respeito à manutenção da boa qualidade do solo. "Permite aproveitar a oportunidade de ocupar um espaço ainda mais relevante no mercado mundial de alimentos e fibras", afirmou. "Por isso é uma alegria colocar mais um filhote de nossas pesquisas à disposição do agricultor".
Segundo o presidente do IDR-Paraná, Natalino Avance de Souza, fazer pesquisa é um processo oneroso, por isso o Instituto, ao longo da história iniciada em 1972 com a criação do Iapar, tem desenvolvido cultivares que se ajustam à agricultura local. "É isso que justifica você ter uma instituição estadual de pesquisa", salientou. "O feijão continua sendo uma cultura importante para nós e está basicamente associada à agricultura familiar, por isso precisamos continuar reforçando a pesquisa e reforçando a assistência técnica".
ALTO DESEMPENHO – A cultivar do grupo comercial vermelho tipo DKR (Dark Red Kidney) IPR Cardeal tem alto desempenho agronômico. Ela é semiprecoce (ciclo de 78 dias), tem potencial produtivo que pode passar de 3,5 toneladas por hectare e apresenta bom comportamento frente às principais doenças que afetam a cultura.
A diretora de Pesquisa do IDR-Paraná, Vânia Moda Cirino, destacou o fato de o mercado externo demandar feijões do grupo vermelho que mantenham essa coloração mesmo depois de cozidos. "A grande vantagem da IPR Cardeal é a persistência da coloração do grão, porque as variedades do grupo vermelho disponíveis não são aceitas pelo mercado internacional, pois quando se coloca de molho entra vermelho e sai branco, quando faz o cozimento sai marrom", disse.
A IPR Cardeal é indicada para ser cultivada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, podendo ser plantada tanto na safra das águas como da seca. A partir de agora as sementes devem ser multiplicadas pelos parceiros. A expectativa é que estejam com os agricultores já na próxima safra.
CULTIVARES – O Paraná é um dos maiores produtores nacionais de feijão. No ano passado, somadas as três safras, foram produzidas 681 mil toneladas. Este ano a primeira safra, cuja colheita já teve início, tem previsão de 175,5 mil toneladas, redução de 12% em relação as 199 mil toneladas do ciclo anterior devido à pouca luminosidade, erosões, alagamentos e lixiviação do solo.
No Estado, a produção é principalmente de agricultores familiares e, por isso, o Governo tem investido no melhoramento genético para aumentar a rentabilidade e a produtividade das lavouras.
Desde que foi iniciado o programa de melhoramento genético, ainda no antigo Iapar, hoje IDR-Paraná, o Estado já colocou à disposição dos agricultores de todo o Brasil e de alguns países da América do Sul e Europa, 228 cultivares. Dessas, 41 são de feijão.
Esta é a segunda entregue este ano. Em março foi apresentada a IPR Águia, do grupo comercial carioca, que se destaca pela alta tolerância ao escurecimento dos grãos, característica desejada por todos os elos da cadeia produtiva e especialmente importante para os agricultores, já que permite estocar a produção e decidir sobre o melhor momento de fazer a venda.
MELHORAMENTO – O desenvolvimento de uma nova cultivar é um trabalho de longo prazo. Desde o planejamento dos cruzamentos, que visam à combinação dos genes para obter as características pretendidas para a planta, até o lançamento das sementes para multiplicação, são 10 a 12 anos de estudos.
O melhoramento genético agrega diversas características à planta, como ciclos de cultivo mais curtos, tolerância a diferentes condições de clima e de solo, arquitetura de planta que facilita a colheita mecânica e até mesmo a qualidade culinária do grão.
O IDR-Paraná mantém um dos principais programas de melhoramento genético do País e mudou a realidade agrícola do Estado, gerando conhecimentos, produtos e tecnologias. Como resultado, além de ganho na produtividade, propiciou a prática de uma agricultura mais sustentável, a redução da utilização de agrotóxicos e, consequentemente, a produção de alimentos mais baratos e seguros para a população.
A obtenção de uma linhagem a ser cultivada passa primeiro pela avaliação e seleção dos genitores que carregam as características agronômicas, comerciais e culinárias desejáveis para o cultivo. Isso inclui resistência a determinadas doenças, o potencial de rendimento, adaptação ao clima, escolha da cor, tempo de cozimento e quantidade de nutrientes no grão.
Pelo método de melhoramento convencional usado pelo IDR-Paraná, os genes são cruzados e recombinados para obter um único genótipo com as características esperadas para aquela cultivar.
O produto resultante desses cruzamentos, que passa por oito gerações da planta sendo colhida e replantada, é avaliado até atingir a estabilidade genética do material. Após esse processo, o material selecionado é testado em diferentes ambientes do Estado, sendo plantado nas estações experimentais do IDR-Paraná e em áreas de produtores parceiros para avaliar sua adaptação a diferentes climas e solos.
O programa também conta com um protocolo para manejo integrado de pragas (MIP-Feijão), tecnologia para fixação biológica de nitrogênio e métodos para manejo das principais doenças.