IDR-Paraná contribui para reduzir poluição por agrotóxicos 11/01/2021 - 12:29
Dia 11 de janeiro é o Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos. Os defensivos químicos, quando mal aplicados, podem causar sérios danos ao meio ambiente e à saúde humana. A preocupação no Brasil é legítima já que o país é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo em números absolutos.
O país perde para Japão, União Europeia e Estados Unidos quando são levadas em conta a quantidade de alimento produzida e a área plantada. Ainda assim, o Brasil é um dos principais mercados para esses produtos e a ocorrência de intoxicações e a poluição de rios e solo é recorrente.
Preocupado com estes dados, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-Paraná) tem levado aos agricultores algumas tecnologias e práticas que diminuem o uso de agrotóxicos. O Manejo Integrado de Pragas (MIP), por exemplo, pode reduzir em 50% as aplicações de inseticidas na soja. O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) e a Agroecologia também contribuem para a implementação de uma agricultura mais sustentável, diminuindo os problemas gerados pelo uso excessivo dos agrotóxicos.
O volume de agrotóxico usado na agricultura brasileira ainda é grande. Dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) mostram que em 2017 os agricultores brasileiros usaram 539,9 mil toneladas de agrotóxicos. Neste cenário, os extensionistas tentam convencer os produtores que boas práticas na agropecuária podem diminuir o uso de defensivos agrícolas.
MIP/MID
Edivan Possamai, coordenador estadual do Projeto Grãos do IDR-Paraná, sai em defesa dos produtores. Ele diz que o agricultor não aplica este tipo de produto porque gosta. "A questão é econômica. O produtor tem receio de perder a safra para as pragas", observou.
Segundo o extensionista, para mudar de conduta, o agricultor precisa de um suporte técnico. "O MIP e o MID demonstram que é possível reduzir o uso de agrotóxicos e manter a produtividade das lavouras. Produtores que fizeram o MIP, acompanhados pelo IDR, fizeram 1,9 aplicações de inseticidas, contra 3,9 aplicações nas áreas que não fazem esse controle. Nas propriedades que aplicaram o MID, foram feitas, em média, 1,6 aplicações de fungicidas, enquanto a média paranaense é de 2,4 aplicações", informou Possamai.
Ele lembra também que há vários casos de produtores que passaram o ciclo todo da soja sem fazer uma só aplicação de defensivo químico. Segundo Possamai, para mudar a cultura de fazer aplicações preventivas de agrotóxico, sem necessidade, é preciso um posicionamento mais firme da assistência técnica, com uma visão sistêmica da propriedade e o compromisso de usar os agroquímicos de forma mais racional.
O MIP e MID nem sempre eliminam totalmente os defensivos químicos, mas oferecem ao produtor a possibilidade de usá-los somente quando a praga, ou doença, significar risco para a lavoura. Com essas práticas é possível adiar o uso dos agrotóxicos. "Quanto menos o produtor interfere no ambiente da lavoura, maior é o equilíbrio entre inimigos naturais e pragas. Os manejos integrados favorecem um ambiente mais equilibrado, onde a própria natureza faz o controle de pragas e doenças", explicou Possamai. Para levar esse conhecimento aos agricultores, os técnicos do IDR-Paraná trabalham em parceria com universidades, Senar e Embrapa-Soja.
Sustentabilidade
Um dos fatores que vêm ajudando a disseminar práticas ambientalmente corretas e, por consequência, que ajudam a diminuir a poluição por agrotóxicos é a crescente adoção de princípios da agroecologia. O governo do estado desenvolve um programa de fomento à agricultura orgânica, dando o apoio necessário para que os produtores interessados possam superar os gargalos desse segmento.
André Luis Alves Miguel, coordenador de Agroecologia do IDR-Paraná, disse que a assistência técnica trabalha a partir do conceito de transição para sistemas agrícolas que sejam mais sustentáveis. Para tanto, os extensionistas levam aos agricultores algumas práticas que levam em conta a racionalização ou o uso consciente de insumos; a substituição dos agrotóxicos por produtos menos nocivos ou biológicos; o redesenho dos agroecossistemas, mudando o sistema para não usar insumos (implantação de barreiras vegetais em volta das lavouras), além da valorização da produção e comercialização local para diminuir os custos de produção.
No ano passado, o IDR-Paraná fez dois grandes treinamentos de técnicos e produtores, combinando a orientação virtual e visitas aos locais de plantio. Foram implantadas 79 unidades de referência de tomate orgânico e 69 URs do Sistema de Plantio Direto de Hortaliças. "Todo o manejo dessas áreas foi orgânico, sem qualquer tipo de agrotóxico. Esperamos que esse trabalho dê confiança para os agricultores e técnicos e a experiência se multiplique", afirmou Miguel.
Ele acrescentou que aumentou também a oferta de tecnologias de insumos biológicos para o produtor. "Hoje existem no mercado microorganismos que o produtor pode usar na lavoura, sem causar qualquer dano ao meio ambiente. Quando o agricultor conhece esses produtos ele se interessa muito. Afinal de contas, o produtor é quem mais se contamina diretamente com os agrotóxicos. Existem também os produtos 'on farm', que é quando o produtor compra uma cepa de microorganismo que vai controlar uma praga ou doença e o reproduz na propriedade. Isso diminui os custos e o uso de agrotóxicos", conclui.
Pesquisa
O assunto também é tema da diretoria de Pesquisa e Inovação do IDR-Paraná, que tem uma preocupação constante com a poluição causada por agrotóxicos. Tanto assim que os seus objetivos são gerar tecnologias que promovam a produção de alimentos seguros, saudáveis e nutritivos e que poupem a terra a água e outros recursos naturais.
O IDR-Paraná vem desenvolvendo variedades de café, milho, batata e cereais de inverno mais adaptadas e resistentes a pragas e doenças, que demandam menor uso de agrotóxicos. Além disso, os pesquisadores também trabalham para melhorar as práticas de manejo e conservação de solos, a rotação de culturas e Sistemas Integrados de Produção Agropecuária.
"São pesquisas que contribuem para a melhoria da fertilidade dos solos e redução da erosão, tornando as plantas mais resistentes, além de contribuir para a redução da erosão e consequente contaminação da água com resíduos de agrotóxicos e outros agroquímicos, carreados para os rios e outras fontes de água", afirma Pedro Auler, gerente de pesquisa do IDR-Paraná.
Outra linha de grande relevância são os estudos voltados ao aprimoramento do manejo integrado de pragas e doenças que tem um forte impacto no uso racional de agrotóxicos. Cabe destacar ainda os projetos voltados para a agroecologia, no desenvolvimento de sistemas de produção agrícola que dispensam o uso de agrotóxicos.
Os pesquisadores do IDR-Paraná também desenvolveram e adaptaram tecnologias e processos voltados à produção de leite orgânico para bubalinos e bovinos. Além disso, aprimoraram um protocolo de criação massal do parasitoide Tamarixia radiata, inimigo natural do inseto vetor da doença HLB dos citros, em parceria com a COCAMAR e CITRI. Nos últimos quatro anos já foram liberados aproximadamente 2.700.000 parasitóides nas regiões de produção de citros do Noroeste e Norte do Estado do Paraná.
Com o aplicativo Iapar Clima, que concentra todas as informações estratégicas de 70 estações meteorológicas do IDR-Paraná e do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), o agricultor tem informações para fazer o correto manejo fitossanitário das culturas, com a racionalização no uso de agroquímicos. Os pesquisadores também desenvolveram um protocolo para o manejo integrado de pragas (MIP) do feijão.
Impacto
Os pesquisadores auxiliaram na definição do zoneamento de risco climático para as principais culturas com importância econômica cultivadas no Estado do Paraná e no sistema de aviso fitossanitário para a cultura da maçã.
O impacto dessas pesquisas é notório. Estima-se que somente o uso de variedade de café resistentes a doenças e pragas levou a uma redução de cerca de 120 mil litros ou quilos de fungicidas, bactericidas, acaricidas e nematicidas, por ano, no Paraná.
Reportagem: Roberto Monteiro