Mudanças climáticas cobram atenção nas estratégias de manejo do solo e da água 08/04/2024 - 17:30
A crise climática está cobrando um refinamento das estratégias de manejo e conservação do solo. Essa é a principal conclusão de seminário técnico promovido pelo IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná — Iapar-Emater) na ExpoLondrina. O encontro reuniu cerca de 50 participantes, entre produtores, técnicos e pesquisadores.
Falando na abertura da reunião, a diretora-executiva em exercício do IDR-Paraná, Vania Moda Cirino, destacou a importância do tema. “Na safra 2023-2024, produtores que descuidaram das práticas conservacionistas do solo e da água tiveram uma redução de produtividade em torno de 18%”, apontou.
Na reunião, pesquisadores do IDR-Paraná apresentaram dados recentes de pesquisas desenvolvidas na instituição. “As melhores práticas agronômicas, incluindo diversificação de culturas, terraceamento e calagem adequada podem minimizar a perda de potencial produtivo das lavouras”, explicou pesquisador Cezar Francisco Araújo Júnior.
De acordo com Araújo Júnior, essas práticas aumentam a infiltração de água no solo e reduzem o impacto do déficit hídrico. No caso de chuvas intensas, a cobertura vegetal permanente minimiza a erosão hídrica acelerada e contaminação dos rios e riachos.
O comportamento da meteorologia tem levado a um refinamento das pesquisas sobre manejo e conservação do solo e da água. “Temos, por exemplo, sensores que fazem determinações de temperatura, umidade e condutividade elétrica a cada cinco minutos, transmitidos e armazenados em nuvem”, revela Araújo Júnior. “O próprio plantio direto, que existe há 50 anos, envolve vários princípios que podem ser refinados para minimizar o déficit hídrico e a temperatura excessiva no solo”, acrescentou.
Na prática do campo, o desafio é aprimorar a sequência de culturas. Nos últimos 20 anos, houve grande aumento do cultivo de soja no verão, em detrimento do milho.
“Verificamos que inserir o milho safra a cada três anos pode dobrar a taxa de infiltração de água em comparação com a prática soja-milho safrinha”, revelou o pesquisador.
HISTÓRIA – O Paraná tem larga história em manejo sustentável do solo, iniciada ainda no início da década de 1970, quando a pesquisa, a extensão rural e os produtores enfrentaram o grave problema da erosão que arrasava terras e cursos d’água no Estado.
Com abordagem em microbacias, pesquisadores do IDR-Paraná desenvolveram e adaptaram métodos de terraceamento e cultivo mínimo que recuperaram milhares de hectares no Paraná e inspiraram projetos similares em outras regiões brasileiras e também na América Latina e África. Nesse período foram iniciados os estudos sobre plantas de cobertura para rotação de culturas e, ainda, os primeiros ensaios em plantio direto.
Estima-se que no Paraná sejam cultivados sob sistema de plantio direto em torno de 80% dos cerca de 5,6 milhões de hectares dedicados a lavouras anuais.
Participaram do seminário os especialistas Celso Daniel Seratto, Graziela Moraes Cesare Barbosa, Jonez Fidalski e Sérgio José Alves, todos ligados ao IDR-Paraná, e também o engenheiro Charles dos Santos, da CS Consultoria Ambiental.