Rede de Agropesquisa do Paraná Intensifica Combate à Cigarrinha-do-Milho 23/04/2024 - 11:34
Representantes de entidades que se dedicam à pesquisa agropecuária reuniram-se na última semana no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná) em Londrina para um treinamento e início do projeto de monitoramento da flutuação populacional da cigarrinha-do-milho na atual safra. O trabalho é feito pela Rede de Agropesquisa Complexo de Enfezamento do Milho no Paraná.
Criada em 2023 para atender as demandas crescentes do setor agrícola estadual, a rede tem se destacado no enfrentamento dos prejuízos causados pelos enfezamentos e viroses transmitidos pela cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Com foco na abordagem da complexidade desse desafio, a rede foi estruturada em três eixos prioritários: monitoramento, reação de cultivares e controle químico e biológico.
O treinamento ministrado pela equipe de pesquisadores da Área de Proteção de Plantas abordou desde a instalação e coleta das armadilhas adesivas até a taxonomia e identificação da Dalbulus maidis, além de atualizações sobre a bioecologia do inseto. Doze extensionistas do IDR-Paraná, representando seis mesorregiões produtoras de milho segunda safra, participaram.
O protocolo técnico resultante desse encontro, que servirá de base para o monitoramento nas unidades de referência, também será estudado em novos treinamentos abrangendo outras regiões produtoras. “Esse encontro foi um sucesso, o IDR-Paraná se destaca ao gerar essa rede de informações graças à capilaridade dos técnicos nos municípios, e com os dados sobre a biologia do inseto podemos ajustar as estratégias de manejo”, salientou Ivan Bordin, pesquisador da Área de Fitotecnia.
Além do monitoramento, a equipe técnica – pesquisadores da Área de Proteção de Plantas Rodolfo Bianco, Humberto Godoy Androcioli e Adriano Thibes Hoshino, além de Michele Regina Lopes da Silva e Ivan Bordin – ressaltou a importância de estratégias como seleção de cultivares tolerantes geneticamente, tratamento de sementes, pulverizações regulares, controle de plantas daninhas, planejamento do plantio e controle ambiental para mitigar os impactos das pragas.
A iniciativa visa gerar mapas de distribuição populacional da cigarrinha-do-milho e emitir alertas nos períodos críticos da cultura do milho. As informações são fundamentais para orientar técnicos e produtores na adoção de melhores práticas agrícolas.
“Esses alertas possibilitam ao produtor saber como estão as populações de cigarrinha na sua região e também a efetividade delas com os patógenos. Para que possa decidir se deve ou não intensificar as ações de manejo contra as doenças do complexo de enfezamento do milho”, afirmou a pesquisadora Michele.
DOENÇA - A doença envolve o inseto Dalbulus maidis, que transmite o vírus da risca e as bactérias fitoplasma e espiroplasma , também conhecidas como molicutes. Por isso, os técnicos a denominam “complexo” do enfezamento.
A cigarrinha se contamina ao sugar a seiva de plantas infectadas e transmite os patógenos quando se alimenta novamente em lavouras sadias. Ela pode voar em um raio de 30 quilômetros, mas, transportada por correntes de ar, pode alcançar distâncias maiores.
A infecção das plantas ocorre no período que vai da emergência até cerca de 35 dias, embora os sintomas — manchas vermelhas ou amarelas nas bordas das folhas ou em formato de riscas (que revela a presença do vírus) e pouco desenvolvimento das plantas — se manifestem com a lavoura já em fase de pendoamento e formação de grãos.
O complexo do enfezamento foi primeiramente detectado no Oeste do Paraná há cerca de 20 anos, em ocorrências esporádicas e localizadas. A partir de 2017 começaram a aumentar os relatos de sua presença nas lavouras.
Até o momento, as principais recomendações para lidar com a doença são o uso de cultivares tolerantes e vistorias constantes no período que vai da emergência das plantas até o estágio de oito folhas, com o objetivo de avaliar a presença da cigarrinha e a necessidade de seu controle com inseticidas químicos ou biológicos.
Também se recomenda o uso de sementes tratadas e a semeadura simultânea em uma mesma região para evitar a chamada “ponte verde”, que é a existência de lavouras em diferentes etapas de desenvolvimento e, com isso, oferta de alimentos e estímulo à migração das cigarrinhas e ao reinício do ciclo de contaminação de cultivos.
A eliminação de tigueras, ou plantas guaxas, do terreno é importante para interromper o ciclo da cigarrinha e dos patógenos.
REDE - Além do IDR-Paraná, estão envolvidas na Rede de Agropesquisa Complexo de Enfezamento do Milho a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a UniCesumar, a Embrapa Milho e Sorgo, Embrapa Cerrados e as cooperativas Coamo, Cocamar, Copacol e Integrada.
O investimento previsto na rede é de R$ 3,8 milhões, recurso proveniente da Fundação Araucária — entidade de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico vinculada à Seti (Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná) —e do Senar-PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). A duração dos projetos é de três anos.
“O trabalho que temos feito desde o ano passado tem se mostrado acertado. Com o engajamento dos parceiros e financiadores da rede, conseguimos estabelecer estratégias de integração e vamos cada vez mais divulgar os resultados das pesquisas para a comunidade acadêmica e para os produtores, a fim de vencermos os desafios dessa doença”, afirmou a diretora de pesquisa e inovação do IDR-Paraná, Vânia Moda Cirino.