Treino visita para o cultivo de morango dá bons resultados na Região Metropolitana de Curitiba 11/10/2024 - 09:18

Ana Lúcia Baptista Damaceno e Rodrigo Veronesi plantam morango em Fazenda Rio Grande. Até iniciar a atividade, em abril deste ano, o casal pouco sabia a respeito do cultivo. Jonathan Baedeski, de Araucária, também desconhecia as particularidades do morango, mas viu no seu cultivo um atrativo a mais para que turistas visitassem sua propriedade. O que esses produtores têm em comum é que eles contaram com a assistência técnica direta dos extensionistas do IDR-Paraná, seja para implantar ou assistir seus cultivos. Mais que isso, eles foram capacitados por meio de treinos visita. A iniciativa, inédita na região para o cultivo de morango, reúne agricultores e extensionistas em encontros periódicos nas propriedades, nos quais se discute o manejo do morangueiro. Os agricultores vêem, na prática, a aplicação das orientações teóricas. O treino visita ajuda o produtor a compreender aspectos técnicos do trabalho com o morango, melhora a gestão da propriedade e pode significar uma economia de até 20% no uso de insumos.

A aplicação do treino visita para capacitar produtores de morango na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) começou a ser formulada em 2018 e implementada em 2024. Luís Gustavo Lorga, do IDR-Paraná de Fazenda Rio Grande, foi designado para atender produtores de Mandirituba. “Percebi que havia alguns gargalos nas propriedades como o excesso de pulverizações e intoxicação dos cultivos em alguns casos, uma forte interferência de terceiros (revendedores de produtos químicos) nas propriedades. Além disso, várias instituições davam assistência aos produtores sem um diagnóstico completo da produção de morango”, contou o extensionista. Ele disse que o esforço inicial foi uniformizar o trabalho feito em toda a cadeia do morango, ensinando o produtor “a fazer o básico bem feito”.

Aprendizado na prática

Ana Lúcia Damaceno e o marido cultivam 2.400 pés de morango, no sistema elevado e semi-hidropônico, em Fazenda Rio Grande. O casal participa dos treinos visita desde o início do plantio e aos poucos foram aprendendo a lidar com o morango. “Eu trabalhava em indústria, mas tinha a vontade de fazer algo por conta própria, num trabalho que não fosse tão estressante.Tirando os ácaros que aparecem de vez em quando, eu estou adorando”, afirma.

A produtora observou que o aprendizado tem sido contínuo e o treino visita facilita a compreensão dos conceitos repassados pelo extensionista. “Para a gente que não sabia nada de morango, esse treino foi muito bom. Tudo o que fazemos segue a orientação do técnico. O treino visita ajuda muito porque a gente vê na prática como funciona a teoria. E tem ainda o contato com outros produtores, quando a gente conversa sobre o manejo ou outros tipos de estufas”, ressaltou Ana Lúcia.

Jonathan Baedeski participa dos treinos visita há quase um ano e vê algumas vantagens nessa prática. “O técnico está sempre na propriedade, auxiliando, vendo quando tem pragas e doenças. A gente aprende a ver o que a planta está precisando”, conta. Baedeski observou que mudou até mesmo o uso de insumos. Ele informou que o uso de produtos biológicos ou produtos recomendados pelo extensionista, levou a uma economia de 20% nos gastos com fertilizantes e adubos.

Orientações na propriedade

No treino visita o extensionista apresenta o conhecimento teórico para os produtores numa tarde de aconselhamento Em seguida passa para a área produtiva onde tudo é visto na prática. Assim, os produtores aprendem a identificar os problemas. Segundo Lorga, as orientações abordam alguns temas que norteiam o trabalho. O primeiro deles é explicar aos agricultores as condições ambientais necessárias para a produção de morango. “O agricultor precisa saber que o morango exige certas condições ambientais para que a variedade escolhida expresse seu maior potencial. Entre eles estão temperatura, umidade relativa do ar, fotoperíodo, tempo de exposição a claridade. Por isso, algumas vezes é preciso fazer adaptações na propriedade”, explicou o extensionista. Um outro ponto é a estrutura de cultivo, ou seja, as condições de declividade do solo, o tipo de estrutura da estufa, o uso de bancadas, substratos e irrigação. “Isso ajuda o agricultor a definir no que investir”, alerta Lorga. Um terceiro aspecto importante é o tipo de cultivar que será usado, optando por aquelas que são resistentes a doenças, pelas variedades que produzem no verão ou inverno, cultivares que vão produzir para o comércio ou colhe-pague e também onde esse material pode ser adquirido com segurança.

Lorga destaca que nos treinos visita as orientações a respeito de nutrição e formulação de caldas esclarecem as dúvidas dos produtores sobre quando é vantajoso ele próprio fazer a fórmula na propriedade, livrando-se da compra de produtos prontos que nem sempre oferecem o equilíbrio de nutrientes necessários para as plantas. O produtor também é orientado a adotar o manejo integrado de pragas e doenças, desde o momento quando escolhe a área onde vai cultivar o morango.

Segundo o extensionista, os agricultores são treinados para saber o momento e a forma correta de fazer o manejo do cultivo. “No início do ataque de pragas e doenças, o controle biológico pode resolver o problema. Por isso treinamos o produtor a identificar esses problemas no início. Quando é mais intenso há vários métodos, desde fazer uma poda drástica, até uso de agroquímicos, sempre com a orientação técnica de um profissional. O produtor deve ainda respeitar o período de carência dos produtos, volume da calda, o uso de EPI (Equipamento de Proteção individual), bicos de pulverização adequados, além de fazer um monitoramento para saber se o produto fez efeito ou não”, ensina Lorga.

Acompanhamento

A assistência técnica não termina na produção. Lorga ressalta que é feito um acompanhamento para que os produtores reconheçam o ponto de colheita do morango, o melhor tipo de embalagem e como é feita a seleção dos frutos. Há também um protocolo mínimo que é apresentado para quem vai investir na agroindústria. “Para quem lida com morango congelado, por exemplo, é preciso ter cuidado para evitar a contaminação, é necessário ter alvará da inspeção municipal. Quem lida com a fruta deve seguir princípios de higiene do produto e pessoal para não levar contaminações para os frutos”, observou Lorga. O treino visita finaliza com a capacitação dos produtores na cadeia logística, armazenagem, transporte e possíveis produtos a base de morango para diversificar a renda da propriedade. Atualmente existem três grupos de treinos visita para morango na região Metropolitana de Curitiba, com até 30 produtores cada. Um deles reúne agricultores de Almirante Tamandaré, Colombo e Bocaiúva do Sul. Outros dois grupos estão em Araucária.

De acordo com Lorga, uma consequência direta do treino visita é que os produtores passaram a conhecer mais sobre a cultura do morango. “”Com isso eles puderam fazer melhores escolhas na hora de comprar insumos, aprenderam a fazer uma nutrição mais balanceada, diminuíram a compra de produtos que ficavam estocados”, contou o extensionista. Ele acrescentou que a ação para combater pragas e doenças também ficou mais assertiva. “No treino visita o produtor participa o tempo todo e nós motivamos os produtores a fazer mudanças”, concluiu.

Até mesmo a organização dos produtores foi influenciada pelos treinos visita. Estão sendo formados grupos de agricultores para a compra comunitária de insumos. “A ideia de colaboração começou a ser discutida nesses grupos, pensando-se até na formação de associações ou cooperativas”, afirmou Lorga. Ele informou também que no próximo ano devem ser formados novos grupos na Região Metropolitana de Curitiba. Representantes da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) e extensionistas de outras regiões do Paraná já vieram à RMC para conhecer essa metodologia de trabalho. O IDR-Paraná também está capacitando outros extensionistas para que a prática possa ser levada a outras regiões produtoras de morango.